A Armadilha da Vaidade nas Artes Marciais

A Armadilha da Vaidade nas Artes Marciais

          Dentre as muitas ciladas e armadilhas que se manifestam no Caminho do Guerreiro. A que merece significativa relevância é a VAIDADE. Chamada também de orgulho, ou soberba. É o desejo de atrair a admiração das pessoas. Reflexo de um mundo onde a competitividade é constante, muitos praticantes marciais acabam enredados e seduzidos pela idéia da atração dos olhares.

          Comum, para quem inicia a prática marcial sentir-se erroneamente distinto e superior aos demais. É natural que a auto-estima fique alta no início da prática, pois assim como os animais, o ser humano vive numa espécie de cadeia predatória. As Artes Marciais, produzem no indivíduo uma sensação de auto-sustentabilidade que para alguns se manifesta de forma positiva. Porém, muitos pavoneam evidenciando o quanto ainda são imaturos.

          A vaidade, porém, não é um mal que afeta apenas os iniciantes. Principalmente os orientadores são seduzidos pelas amarras do culto à própria imagem. Muitos são enredados. Quando digo orientadores, prefiro usar este termo ao invés de mestre. Pois, hoje são raros aqueles que mereçam ser chamados de mestre.

          Um orientador marcial, à frente da sua escola é o representante direto de uma determinada Tradição Marcial. Através dele, essa Tradição é transmitida. A Tradição é o tronco, e através dela se ramificam galhos (praticantes) que vão ficando fortes (orientadores), que posteriormente irão gerar galhos novos (iniciantes). Assim a Tradição vai sendo retransmitida ao longo do tempo e continuando viva. Claro, como numa árvore, são gerados galhos bons, galhos tortos, galhos que apodrecem, etc.

          Quando um praticante se gradua orientador e começa a ter alunos, a armadilha é colocada em seu Caminho. Este estando à frente, passará a ser admirado, será bajulado e errôneamente endeusado. Se inicia um processo de culto à personalidade do orientador. Os alunos cometem a grande falha de cultuar ao orientador e não à Arte. Então, se este começar a se achar merecedor de tudo isso sem alertar que a máxima do Caminho é a Arte, fica evidente de que foi pego pela armadilha. Sem notar, este se tornou uma pessoa vaidosa.

          Mesmo hoje, existem orientadores que gostam de pagens. Confundem o merecimento de respeito por ser o guia, tercerizando aos seus alunos todas suas necessidades particulares. Alienado à realidade. esquece que hoje não vivemos num antigo regime feudal. O frenesi da sociedade capitalista alterou os antigos moldes da vivência em comunidade. Praticar Artes Marciais hoje, para quem não segue uma carreira profissional, é um refúgio desta realidade. Não deve se tornar outro cárcere. 

          Há um grande equívoco de interpretação com relação à respeito. Respeitar, significa acatar, saber ouvir, dar atenção, ser atento ao que alguém tem a lhe ensinar, ter consideração. Não tem a ver com culto de personalidade, bajulação, tampouco a pagear alguém.

             

 

"A bajulação é a moeda falsa que só circula por causa da vaidade humana." -  François La Rochefoucauld

              Bajulação e culto de personalidade, aos poucos destrói o caráter de uma pessoa. Infelizmente, o ser humano é facilmente corruptível à idéia de ser tratado como uma deudade. A comodidade de ter várias pessoas realizando todos os interesses, enreda.

           O orientador nos guia pelo Caminho Marcial, mas não é o Caminho. Fazendo uso das palavras de Buddha, adaptando ao nosso contexto: O mestre é o dedo que aponta e nos mostra a lua. Se você aceita o dedo como sendo a verdade, jamais verá a lua. O bajulador é como um macaco que vê o reflexo da lua na água, e fica tão maravilhado que não consegue mais olhar para o céu e enxergar a verdadeira lua.

          O Caminho é escolhido, e a forma de andar e o ritmo das passadas é responsabilidade do caminhante. O orientador é um companheiro de Caminhada, ele nos mostra o Caminho que percorreu e a direção dentro da Via. Contudo, cada um tem as próprias pedras e obstáculos a superar neste Caminho.

          O mestre marcial é o guia, não o Caminho.       

Acompanhe o mestre, mas Siga o Caminho. Respeite o mestre, mas Honre o Caminho. Ouça o mestre, mas Acredite  Unicamente no Caminho. Lute ao lado do mestre, mas Morra Defendendo o Caminho. O Caminho é a VERDADE INQUESTIONÁVEL. - LARA, Eduardo (2012)

          Mostre seu respeito ao orientador treinando com diligência e seriedade. Um mestre não é um deus a ser adorado. Mimo não estraga só criança. Existe também o adulto mimado, que é mais impertinente e egocêntrico. Despresível.

          O orientador é um ser humano comum que possui suas fraquezas, falhas, tem dias difíceis, tem dúvidas e às vezes tem vontade de desistir. Afinal, é HUMANO. Nas horas cruciais o aluno deve demonstrar sua consideração. Mostrando através da seriedade dos atos e  no treinamento que o trabalho do orientador vale a pena. E se ele exigir mais que isso, deixando evidente de que está se aproveitando da posição de instrutor, troque de Dojo.

         

          Quem pratica culto de personalidade alimenta o demônio da VAIDADE. O oriendador vaidoso é alguém que se acha especial, mas se perdeu do Caminho.  É um "CEGO GUIA DE CEGOS".  Os vaidosos cedo ou tarde perdem a credibilidade. Pois as pessoas sérias aos poucos vão se afastando, restando apenas os bajuladores e demagogos. Assim, quem perde são as Artes Marciais.

          Aquele que deseja dedicar sua vida ao Caminho Marcial. Desde o início deve começar a aprender a desviar desta "armadilha". Não se encante pelas lisonjas, saiba esquivar dos bajuladores. Principalmente, tudo o que fizer faça para si. Aos elogios do mundo, prefira os aplausos de sua própria consciência. Saiba principalmente identificar aqueles que tem uma face obscura e interesseira escondida por trás de suaves palavras.

          Assim as correntes do Ego não serão fortes o bastante para aprisioná-lo.